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Por
Lúcia Mees
O ano de 2022 marcou a explosão no uso da inteligência artificial em atividades cotidianas. Já 2023, em uma crescente de inovação, trouxe aplicações inéditas da tecnologia nas empresas privadas, e criou novas possibilidades do uso da inteligência artificial na gestão pública. Como resultado, mais do que nunca, prefeituras e governos podem ter em suas mãos uma tecnologia com poder transformador na qualidade da administração pública e na entrega de serviços como saúde e educação.
Nesse sentido, a IA já não é mais uma tecnologia futurista, e sim realidade presente. Da automação de tarefas manuais à previsão de condições de saúde, governos de todo o mundo já têm investido na modernização com a inteligência artificial na gestão pública.
A inteligência artificial pode ser entendida como um ramo da computação que desenvolve algoritmos e ferramentas capazes de imitar a capacidade de cognição humana. Assim, os softwares e sistemas de IA são capazes de realizar tarefas que normalmente exigiriam inteligência humana, como aprendizado, tomada de decisões e reconhecimento de padrões.
É importante notar que o que diferencia a IA de softwares comuns é a sua capacidade de aprendizado e adaptação. Enquanto um software tradicional executa tarefas específicas conforme instruções predefinidas por programadores, a IA pode aprender com dados, identificar padrões e tomar decisões com base em suas próprias análises.
Dessa forma, sistemas com IA podem ser aliados poderosos em situações de previsão de cenários, decisões de alta complexidade, e análise de imagens e dados. Essas soluções são capazes de melhorar seu desempenho ao longo do tempo sem intervenção humana direta. Além disso, a IA pode lidar com situações complexas e imprevistos, ajustando-se de maneira dinâmica às mudanças no ambiente ou nos dados. Em comparação, um software comum funciona dentro de um conjunto fixo de regras que precisam ser pré-programadas, o que limita sua flexibilidade e capacidade de adaptação.
No setor público, considera-se que a IA tem um impacto transformador. Isso acontece porque as tecnologias de inteligência artificial podem otimizar processos administrativos, aprimorar a eficiência dos serviços, e executar análises preditivas que permitem aumentar a eficácia das políticas públicas.
Por exemplo, a IA pode automatizar atendimentos e serviços ao cidadão, analisar vastas quantidades de dados para identificar tendências e necessidades emergentes, e ajudar no planejamento urbano e na alocação de recursos de maneira mais precisa e eficiente. Além disso, ela pode melhorar a gestão de saúde pública ao prever surtos de doenças e apoiar diagnósticos médicos, resultando em respostas mais rápidas e eficazes às necessidades da população.
Um relatório de 2024 da OECD apontou 71 casos de uso da IA na gestão pública, com aplicações como criação de políticas públicas, melhoria da eficiência operacional e de serviços públicos. Cerca de 70% dos países pesquisados já têm usado a inteligência artificial para aprimorar suas operações internas, automatizando rotinas e analisando grandes quantidades de dados. Ou seja, trabalham em uma evolução do já conhecido big data de forma efetiva.
No Brasil, ainda que as principais discussões nacionais se voltem à regulamentação da IA, o maior potencial está no aproveitamento dessa inovação na gestão pública. E a razão é simples: quando se fala em aprimorar a eficiência e qualidade dos serviços públicos, o resultado tem impacto direto na população.
Na saúde, por exemplo, o SUS é o único provedora de atendimento em saúde para 71,5% dos brasileiros. Da mesma forma, as escolas públicas atendem a 80% dos alunos do ensino fundamental e médio. Ou seja, utilizar a inteligência artificial para melhorar a saúde e a educação pública significa fortalecer os serviços dos quais pelo menos 8 em cada 10 brasileiros dependem.
É possível dizer que o escopo de impacto da inteligência artificial inclui todas as áreas e atividades que também podem ser melhoradas com a tecnologia nas Prefeituras e órgãos públicos. A base, entretanto, está na existência de dados e informações concretas.
Da mesma forma como a cloud computing trouxe os serviços públicos para o meio digital, a IA oferece uma camada a mais para simplificar e descomplicar a rotina do cidadão e dos servidores públicos. A tecnologia permite simular a inteligência humana na análise de dados, tomada de decisão e conversação, aprendendo com grandes volumes de informações.
Na gestão de serviços públicos, por exemplo, a inteligência artificial consegue compreender os dados históricos e o momento atual, e com isso prever situações futuras. Itens como demanda por vagas em creches, demanda por atendimentos em saúde, necessidade de médicos ou de transporte público são todos previsíveis com a IA. Nas prefeituras, dessa forma, o uso da inteligência artificial permite melhorar a qualidade da gestão, elevar a satisfação do cidadão e reduzir gastos.
Outra possibilidade está no aprendizado da IA com a comunicação humana, construindo soluções similares à Alexa da Amazon ou de IA generativa como o ChatGPT. Nesse contexto, os algoritmos de IA podem aprender com a escrita ou fala humanas, conseguindo responder à solicitações do cidadão em tempo real, seja nas prefeituras ou outros órgãos públicos municipais, estaduais e federais.
Nesse sentido, embora o Brasil seja reconhecido como 2º país mais avançado do mundo em governo digital pelo Banco Mundial, também encontramos diversos cases de sucesso da inteligência artificial na gestão pública no ambiente internacional.
Na França, o foco do investimento em IA no governo é a melhoria e simplificação do acesso aos serviços públicos, que muitas vezes não entregam a qualidade necessária por defasagem tecnológica ou falta de pessoal.
Nesse contexto, o governo francês criou o Albert, uma ferramenta de IA que apoia os servidores públicos na resolução das perguntas mais frequentes do cidadão. A solução analisa a legislação automaticamente, construindo respostas para as perguntas do cidadão. Assim, Albert permite a economia de tempo e recursos públicos, acelerando a resolução de mais de 16 milhões de solicitações que os agentes de arrecadação e fiscalização recebem por ano.
A abordagem da Coreia do Sul, país considerado referência global em governo digital, é de aproveitar a IA para criar políticas públicas mais eficazes. Assim, aproveita a capacidade de análise e compreensão da tecnologia para ter mais precisão em investimentos e ações. O conceito é simples: as ferramentas de machine learning analisam dados de quarentena médica e de geolocalização de incidentes de saúde para desenvolver respostas a doenças emergentes em tempo real.
Na Finlâdia, o movimento de transformação digital no governo tem foco no cidadão e nos momentos-chave da vida humana. A rede AuroraAI conecta os diferentes serviços públicos digitais e oferece uma plataforma única para encontrá-los. A tecnologia de machine learning permite atendimentos personalizados e proativos, entregando ao cidadão exatamente o que ele precisa, no momento certo. Como resultado, a gestão pública economiza recursos, e o cidadão sai mais satisfeito.
No Brasil, a IA vem se destacando pelo papel importante na melhoria dos serviços públicos e da eficiência da gestão municipal. E ela já é realidade nas Prefeituras brasileiras.
A Prefeitura Municipal de Rio do Sul (SC), por exemplo, vem utilizando a inteligência artificial para prever a evasão escolar com 99% de taxa de acerto e melhorar a infraestrutura educacional. A IA Dara analisa dezenas de parâmetros referentes à vida estudantil de cada aluno, estrutura das escolas e realidade da educação pública municipal, identificando os alunos com propensão de abandono dos estudos. Além disso, a tecnologia compreende os motivos que levam a evasão escolar no nível do estudante, escola e município. Assim, consegue gerar um guia de embasamento para políticas públicas.
Além disso, a Secretaria Municipal de Educação conta com a capacidade de análise e previsão da IA para identificar a demanda futura por vagas em creches e pré-escolas e otimizar a infraestrutura atual. Dessa forma, consegue aprimorar a qualidade da educação e racionalizar os recursos.
Outro Município que vem se destacando pelo uso da inteligência artificial na gestão é São José, na Grande Florianópolis. A Prefeitura Municipal de São José, compreendendo a importância de facilitar o acesso aos serviços públicos, utiliza uma Assistente Virtual com IA no atendimento ao cidadão.
Na prática, os cidadãos que precisam acessar algum serviço municipal, como a emissão de uma guia de IPTU ou a abertura de um processo digital, podem fazê-lo por meio de um chat com IA. Em vez de exigir que o cidadão navegue em menus no website ou selecione dentre opções pré-existentes em um chat, a IA consegue entender a comunicação humana e conectar o cidadão com o serviço que ele precisa. Dessa forma, desburocratiza o atendimento ao cidadão e fortalece sua satisfação. Além disso, a tecnologia permite economizar até 97% dos recursos públicos gastos com atendimento ao cidadão, pois apresenta custos menores que o atendimento presencial ou os métodos tradicionais de atendimento digital.
No Brasil, a tecnologia de IA pioneira e especialista em gestão pública chama-se Dara, e já está em funcionamento em dezenas de prefeituras brasileiras. É a tecnologia impulsionando a modernização digital de Rio do Sul e São José.
Dara é baseada em algoritmos avançados de machine learning e deep learning, e foi treinada com conceitos e situações específicos de governo. Com isso, ajuda os gestores públicos na tomada de decisões em áreas como planejamento, educação, saúde, transporte urbano e infraestrutura. Na educação, é capaz de prever a demanda por vagas, definir a infraestrutura ideal, alocar os estudantes nas unidades, prever a evasão escolar, dentre outros.
Outra frente de Dara está no atendimento ao cidadão. A inteligência artificial para Prefeituras funciona como um assistente virtual inteligente capaz de solucionar a demanda do cidadão instantaneamente, compreendendo milhares de situações distintas. Dessa forma, a IA permite facilitar o acesso do cidadão aos serviços públicos, sem demandar em mais trabalho para a prefeitura ou o órgão público.
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